Macapá / AP - sábado, 20 de abril de 2024

Entenda como a osteoporose se transformou em um dos maiores gargalos da Saúde Pública no Amapá

Entenda como a osteoporose se transformou em um dos maiores gargalos da Saúde Pública do Amapá

 

 

                            

Nos últimos anos, vêm ganhando destaque os frequentes  transtornos pelo qual passam pacientes na fila para cirurgias ortopédicas no Estado. Faltam leitos e pacientes se acumulam pelos corredores. Recentemente, em duas ocasiões, alguns pacientes internados chegaram a protestar nas ruas de Macapá. Em meio aos pedestres e automóveis, enfermos com talas, fixadores ortopédicos e acessos venosos exigiam mais agilidade no atendimento público.

E muitos foram os “culpados”: a falta de infraestrutura do Hospital de Emergência do Estado, escassez de material cirúrgico e exames complementares, negligência médica, ruas mal sinalizadas e com pavimentação rudimentar, motoqueiros com pouca instrução, períodos de chuva... tudo! Menos o principal vilão: a osteoporose!

A osteoporose é uma doença caracterizada pela alteração da qualidade óssea. É silenciosa e não costuma produzir sintomas. Porém, aumenta, consideravelmente, o risco de fraturas em homens e mulheres. Para facilitar a compreensão, vamos falar apenas do principal agravo produzido pela osteoporose: as fraturas não ocasionadas por traumas, portanto, sem relação com acidentes como os de trânsito. São aquelas que ocorrem após uma queda da própria altura ou durante uma simples caminhada e que possuem como único fator de risco a presença de ossos fragilizados pela osteoporose.

Para isso, um estudo chamado BRAZOS (The Brazilian Osteoporosis Study) realizou um mapeamento das fraturas não traumáticas em adultos acima de 40 anos no Brasil e identificou que cerca de 14% de toda essa população já sofreu alguma fratura não traumática pelo menos uma vez na vida. E cerca de 30% destas ocorreram em ossos que necessitam de abordagem cirúrgica ou internação por complicações, como fêmur, úmero, vértebras e costelas. Para se ter uma ideia do quão grave estas fraturas costumam ser, uma recente publicação de uma das mais respeitadas revistas médicas chamada The Lancet mostrou que, de todos os pacientes acima de 60 anos que sofrem uma fratura de fêmur, 38% não sobrevivem após um ano e, dos que sobrevivem, cerca da metade sofre perda importante de sua funcionalidade como a capacidade de andar.

E, ao contrário do que se anda falando, o Amapá possui uma taxa de mortalidade por acidente de trânsito bastante inferior à média brasileira. No último levantamento de 2008, enquanto a média nacional foi de 20 mortes/100.000 habitantes, o Amapá registrou um valor 40% menor. O que mostra que o trânsito, motoqueiros e ruas má pavimentadas não podem ser culpados pelo calo ortopédico do Estado.

Basta caminhar pela Enfermaria de Ortopedia do Hospital Alberto Lima e perceber que a maioria dos pacientes internados é constituída por idosos, muitos internados por fraturas não traumáticas. Por acontecerem em pacientes idosos, esse tipo de fratura costuma conduzir a internações mais prolongadas. Pacientes com mais idade exigem uma avaliação pré-operatória mais cuidadosa e exames clínicos e de imagem mais demorados. E, num hospital onde faltam os exames mais simples, este tipo de internação tende a ser interminável, o que aumenta ainda mais a fila por leitos e os custos com internações desnecessárias. Para ser ter uma ideia, uma das pacientes está aguardando um simples ecocardiograma (exame que poderia ser feito a beira do leito) há duas semanas para poder ser liberada para um procedimento cirúrgico.

E, para piorar todo esse cenário hostil ao idoso, o Estado não possui o exame de Densitometria Óssea (capaz de fazer o diagnóstico da doença) e a principal medicação para tratamento de osteoporose e prevenção de fraturas está indisponível na rede pública. O único medicamento disponível (quando tem) é uma droga chamada de raloxifeno, que, vejam só, não consegue prevenir fraturas em regiões como o fêmur.

Em resumo, como a população do Amapá acima de 40 anos é cerca de 152.000 habitantes, temos que cerca de 21.000 já sofreram algum tipo de fratura produzida pela osteoporose. Todos estes precisavam estar tratando com uma medicação não oferecida pelo SUS e realizando um exame, também indisponível, anualmente.

É hora de combater, seriamente, o vilão de verdade!